quarta-feira, 12 de novembro de 2008

E a vida foi seguindo....







As coisas iam bem. Fizemos alguns colegas...porque amigos, aqui é algo bem raro.
Em casa, rolava um ou outro stress porque alguém nao lavava o banheiro no seu dia de lavar ou nao limpava a cozinha...mas nada que criasse um atrito muito grande.
Minha namorada passou a trabalhar nos fins de semana, em um café numa cidadezinha chamada Torre del Mar, a uns 25km de Málaga. A irmã da Ana, que morava com a gente que a indicou e trabalhava nesse café também. A Tati ia ás vezes na sexta e voltava só na segunda e às vezes ia no sábado pela manhã. Eu sentia uma falta gigantesca dela e passei a odiar os fins de semana. Às vezes saía com os meninos...mas na maioria das vezes acabava ficando em casa mesmo.
Ainda tinha bastante dificuldade com a língua espanhola, a gente acha que é fácil, mas tem horas que vc nao consegue entender bulúfas do que se fala, e como no Brasil, cada regiao tem suas gírias, uns falam mais rápido, outros mais devagar e outros, de forma impossível de se entender.
O clima era bem agradável, dava p/ ir à praia, pegar um solzinho...mas entrar na água, sem condiçoes, o mediterrâneo é gelado demais.
Não me adaptei à comida na Espanha, tudo leva pimentao, a carne não é boa...tudo sem gosto. Isso no início foi um problema, mas depois fui me adaptando. A comida oficial em casa era macarrao com salsicha e frango ensopado.
O verao estava prestes a começar, a cidade já invadida por turistas...
Um belo dia, surge um comentário de um vendedor de enciclopédias, que já tinha ido na casa do Alexandre e dos vizinhos do Alexandre que também éram brazucas. O esquema era tentador: você comprava a coleçao de enciclopédias que vinha com cds...dvds...e uma infinidade de livros e ganhava 12 presentes, os quais você escolhia e entre os presentes possíveis estavam: uma tv de plasma 42", dvd, impressora multifuncional, relógio rolex, faqueiro banhado a ouro, cadeira de massagem, filmadora, notebook...entre outros...p/ isso, vc assinava um contrato e pagava infinitas prestaçoes de 120 euros. No ato do contrato, já pagava a 1ª prestaçao e ganhava os prêmios.
Bom...nem preciso dizer que a brasileirada ficou enlouquecida com isso né, e é nessas horas que a gente dá razao p/ os agentes de imigraçao, muitas vezes rigorosos com nossa entrada na Europa.
A galera toda que conhecíamos começou a comprar isso...claro, com um doc. falso...recebiam os prêmios, mandavam p/ o Brasil, faziam uma grana ou vendiam pela Espanha mesmo...mas os espanhóis nao sao bobos e aí começou o nosso inferno, que por azar, assistíamos a isso tudo bem de perto...
Fotos: 1) Marina de Benalmádena. 2)Eu e meu irmao Léo e ao fundo, o porto de Málaga. 3) Eu nas andanças em um dia de ventania.


sábado, 13 de setembro de 2008

Ahhhhhh...eu tinha que postar isso aqui....

Homem é condenado por alugar mulher ao vizinho
em troca de cerveja
Berlim, 12 set (EFE).- A Audiência Provincial de Fulda, na Alemanha, condenou hoje a três anos de prisão um homem de 39 anos por alugar os serviços sexuais de sua esposa para um vizinho em troca de um engradado diário de garrafas de cerveja.
O condenado deverá, além disso, se submeter a um tratamento para superar sua dependência do álcool enquanto o vizinho, de 60 anos e sem antecedentes criminais, foi sentenciado a dois anos de liberdade condicional por abusos sexuais.
Segundo fontes judiciais, o homem chegou a assinar um acordo com seu vizinho através do qual este poderia ter relações sexuais com a sua esposa, de 32 anos, em troca da cerveja que ele lhe entregaria.
Aparentemente, a mulher, que tinha três filhos, aceitava essas relações por medo de sofrer maus tratos de seu marido.
Depois, decidiu chamar a Polícia, segundo as mesmas fontes, quando a violência exercida por seu marido a fez temer por sua vida.
*** E tem gente que ainda pergunta pq a gente nao gosta de homem né...essa foi p/ acabar mesmo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Dias difíceis...








As coisas na casa nao éram fáceis, todos eram amigos mas todos falavam mal de todos. Cada um tinha uma história na Espanha e em outros países da Europa. Era engraçado porque cada hora vinha uma pessoa conversar c/ a gente, uns davam força, outros praticamente diziam: volta p/ casa. Vou dar uma resumida aqui, as pessoas que moravam na casa:
- Alexandre: 33 anos, (irmao da léia, amiga da amiga de minha mae) o dono do barraco era pizzaiolo, estava em Málaga há 2 anos e estava desempregado(mas sobrevivia também da venda de documentos falsos). Pagava pensao p/ 3 filhos no Brasil.
- Paco: 34 anos, amigo de infância de Alexandre, era servente de pedreiro, estava aqui há 1 an0 e 6 meses. Tinha mulher no Brasil e pagava pensao p/ 6 filhos, isso mesmo, 6 filhos, entre 2 e 13 anos.
- Frank e Rose: 30 e 31 anos, quase 3 anos de Espanha, namoravam há 2 meses, ele assentava taco em apartamentos e ela lavava pratos em um restaurante. Cada um tinha um filho no Brasil. (2 meses após a nossa chegada, eles resolveram largar tudo aqui e voltar ao Brasil.)
- Ana e Rafa: 24 e 26 anos, ela trabalhava em um cyber e ele nas obras. Ele tinha um filho e já tinha rodado a Europa, inclusive, foi deportado da Escócia p/ Holanda e acabou parando em Málaga. Namoravam há 5 meses e queriam mudar de apartamento porque achavam que corriam riscos com os negócios do Alexandre, mas ambos, usavam o tal documento falso. Álias, todos na casa tinham.
- E por fim, nós quatro, eu e minha namorada Tati, meu primo Alex e meu irmao Léo...ainda tontos, sem acreditar e sem saber o que fazer dentro do covil de cobras que caímos.

No 2º dia eu estava tao tonta com tudo aquilo, o Alexandre era o anfitriao perfeito, nos levou p/ uma caminhada pela cidade, nos mostrava tudo, dava as dicas, mas frisava a cada 10 minutos "aqui, sem documento, vocês nao vao trabalhar."
Saímos à noite p/ um pub, perto de casa, meu irmao e minha namorada tomaram um porre homérico, voltaram carregados p/ casa.

No 3º dia de Espanha, resolvemos nos mecher...fizemos curriculuns, inúmeros, em espanhol, o que nao foi fácil, Alexandre nos ajudou. Saímos por toda a cidade distribuindo.
Ana e Rafa estavam a procura de um novo apartamento e nós iríamos dividir com eles, quando encontrássem.
Nos dias que se seguiram, saímos de casa cedo e só voltávamos à noite, exaustos, andamos a cidade inteira a procura de trabalho.
Meu primo, estava com a síndrome de turista: comprava tudo, comia tudo, já tinha comprado até uma bike p/ passear na cidade...mass...cada um c/ seu cada um, nao?
Voltar p/ casa era complicado, nossas roupas estavam nas malas, pq nao tinha lugar, a cama era pequena e a meio metro de distância, tinha outro casal dormindo...eu...nunca tinha dividido quarto c/ ninguém...confesso que nao foi nada fácil. Mas rolava uns churrascos, umas cervejadas...e nessas horas as máscaras iam caíndo.

Após esses 7 dias confusos encontramos um outro ap, no mesmo bairro...bem legal e nos mudamos. Pagamos p/ o alexandre aluguel, água, luz, gás e a comida.
O novo ap era bem legal, 3 quartos, tudo novinho...teríamos nosso cantinho.
Ficamos mais tranquilos...fizemos supermercado e uma lista de tarefas diárias como lixo, banheiro, cozinha, o Rafa e a Ana se mostraram muito amigos e ficou assim: Segundo eles o aluguel do ap era 750 euros (de início era 750 de cauçao e mais 750 adiantados) e dividiriamos em 6...claro, éramos amigos, divídiriamos tudo, aluguel, contas, tarefas...Fizemos uma vaquinha e compramos um computador, pedimos internet e tv à cabo.
Voltamos à procura de emprego...os pés encheram de bolhas, os braços estavam pretos do sol de tanto andar...mas logo conseguimos bicos, o Léo foi entregar panfletos eu fui fazer faxina e a tati foi trabalhar em um café de 5ª a domingo...Bom...as coisas começavam a melhorar. Meu primo Alex...rodava com sua bike pelas praias, academias, lojas...dizia que que o negócio dele era a arte, nao queria outro trabalho.

Em pouco mais de 1 mes, o Alex arrumou uma briga com o Rafa...resultado, pediram p/ ele sair do ap. Ficamos em dúvida: será que deveríamos ir embora também? p/ onde? Liguei p/ meus pais...rrsss...e o que ouvi: deixe que o Alex se lasque! o problema nao é de vocês. Decidimos continuar no ap e o Alex...nao mais falou c/ a gente, pediu 1 semana de prazo p/ sair...nessa 1 semana ele ia jogar video game c/ os amigos que fez, futebol, ou ficava em casa dormindo. As outras pessoas que conhecíamos...nao queriam dividir casa com ele, ou seja, o cara se queimou geral, ninguém gostava dele. Já nao tinha mais dinheiro...e entao, mal ficou 2 meses aqui, voltou p/ o Brasil.


(Foto1: Andanças.../Foto2: Alex, Léo, Alexandre e Tati/Foto3: Nós e o Mediterrâneo.

domingo, 7 de setembro de 2008

A Chegada em Málaga










Nosso contato em Málaga era uma senhora, amiga de uma amiga de minha mae, nos falamos algumas vezes por telefone e o combinado foi assim: ficariamos alguns dias no ap do irmao dela já que uma moça que dividia com ele estava se mudando e precisava de pessoas p/ dividir com ela, que seríamos nós novatos. Ela foi bastante prestativa e atenciosa, até demais, visto que éramos 4 desconhecidos.
Claro, toda essa atençao, teria um preço e começou com alguns pedidos. A senhora me pediu p/ levar na mala algumas coisas que a filha dela mandaria, eis a lista: 1 caixa de leite de rosas, outra caixa com cremes da natura, um tênis da via uno, chinelo havaianas, 4 pacotes de farinha de milho e mais alguns pimenta calabresa...Bom...Até aí tudo bem, fui até a casa da filha dela e peguei as coisas p/ trazer. Mas teve um outro pedido de última hora: linguiça calabresa e carne de sol.
- Mas eu posso levar isso na mala?
- Claro, sem problemas, quando eu vim eu trouxe.
Beleza...comprei a carne, calabresa, embalamos muito bem e dividimos tudo nas nossas 4 malas. Para todos os efeitos, éramos turistas, embarcamos com pouca coisa...cada um tinha uma mala média e uma mochila.

Viajamos pela Air France, com uma conexao em Paris, já que fomos informados que no momento era mais viável do que descer direto na Espanha. Em Paris, foi tranquilo..mal olharam na nossa cara...exceto, quando me barraram tirando fotos no aeroporto, NAO PODE!

Após 14 horas infinitas, chegamos em Málaga...máquina fotográfica nas maos, camiseta, jeans e tenis...superrr turistas..rrssss...ficamos na esteira esperando nossas malas...esperando...esperando e esperando...quando já nao tinha mais ninguém ali e nao aparecia mais nenhuma mala, resolvi sair pelo aeroporto a procura das benditas....foi quando as avistei em uma sala com 2 policiais: putz !! fodeu!!

Chegamos na sala...sem saber falar nada de espanhol, pedi as malas, mas eles pegaram, colocaram em um balcao e nos pediram p/ abrir..uma por uma.
Cada um abrindo a sua mala, necessaire, tudo...todos os pacotes, eles nao mexeram em nada, só iam mostrando e pedindo p/ que abríssemos, muito educados. Mas quando viram as carnes...nossa...os caras ficaram bravos, porque tinha um quadro 3 vezes maior que eu dizendo que era expressamente proibida a entrada de carne sem procedência na Uniao Européia...resultado...pedi desculpas, muitas desculpas, e confiscaram a carne de sol e a linguiça calabresa. A mala do meu primo, estava cheia de tintas, maquina de tatuagem, spray...perguntaram se era pintor...ele disse que sim, mostrou o portifólio..rrss...os guardas se amarraram no trabalho dele, nos fizeram assinar um termo de responsabilidade...e liberaram.
Uffaaa....
Já em solo espanhol, encontramos nossa anfitria e seu namorado, Pepe...(aqui quase todo mundo se chama Pepe ou Juanito...rrss)
Fomos de táxi até o apartamento do cara, olhando tudo...admirando e nao acreditando que estávamos bem e na Espanha.
Chegando lá, já estava rolando um churrasco...uma galera brazuca animada, nos receberam muito bem. O ap era legal...tinha 3 quartos, 2 banheiros, sala enorme, sacada...e já moravam em 6 pessoas, com a nossa chegada 10. E a divisao ficou assim: eu e minha namorada no mesmo quarto que a moça e o namorado dela (1 cama de solteiro p/ cada casal), meu irmao e meu primo com um rapaz no outro quarto, no 3º quarto já morava um casal e o irmao de nossa amiga, Alexandre, que era o suposto dono da bagunça, ficou na sala.
O churrasco correu bem...lá pelas tantas, todo mundo bebendo..o Alexandre veio me oferecer umas identidades, falsas...600 euros cada uma, segundo ele, sem esse documento, nao se trabalhava aqui na Espanha...Bom...aí a ficha começou a cair.
**Fotos: Um pouco da cidade de Málaga.

sábado, 30 de agosto de 2008

O Início...






Depois de muito pensar, analisar o que seria bom e o que seria ruim, as finanças, o que ficaria para trás... Decidi. Queria sair do Brasil, queria mudar de vida, casa nova, coisas novas, pessoas novas, trabalho novo, problemas novos... Queria completar meus 30 anos com tudo novo. (claro que também queria seios novos, barriga nova, nariz novo... mas esses teriam que esperar um pouco mais).

A princípio... queria ir para Los Angeles, pensei que poderia viver como as meninas do The L Word... Mas vamos colocar os pés no chão, né? Não me lembro quem disse isso... Rrsss... E sendo bem racional, me lembrei do meu avô materno que é português (vale dizer que quase não tive contato com ele) e como sabemos, netos de portugueses, por lei também são portugueses. Mas Portu... ou gal? Não tinha nada que me chamasse atenção ali, nem uma outra língua eu aprenderia e pesquisando mais a fundo, soube que Portugal, com um salário mínimo de 410 euros era praticamente o país de 3º mundo da Europa. A parte boa, é que minha namorada (que embarcaria na aventura comigo) já tinha passado dois anos em Lisboa e já sabia de todos os macetes, mas ela também não tinha muitas coisas boas a dizer de lá, logo, Portugal foi eliminado com 100% dos votos.

A 2ª opção: Espanha... Bom, se sou cidadã portuguesa, posso viver em qualquer país da União Européia... Boa!! Pesquisamos algumas cidades, gostamos de algumas... mas o único lugar em que tínhamos um conhecido para poder dar alguma dica era em Málaga (sim, Málaga, já quase chegando na África). Então... Após 1 semana de insônia e dor de barriga de tanta ansiedade, no dia 05 de março de 2008, após 1 ano juntas, eu e minha namorada embarcamos para Málaga... Ahhhh... Como o irmão mais novo nunca fica de fora, o meu embarcou junto e para completar a nossa quadrilha, um primo que queria ser artista na Espanha.

Entramos os quatro naquele avião, felizes e dispostos a encarar 14 horas de viagem... Cheios de sonhos, esperanças, anseios curiosidades.


(Foto 1: Último dia no Brasil, show do Zeca Baleiro eu e a gata, escondidinha e amigas).
(Foto 2: Aeroporto de Congonhas - SP)