sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Dias difíceis...








As coisas na casa nao éram fáceis, todos eram amigos mas todos falavam mal de todos. Cada um tinha uma história na Espanha e em outros países da Europa. Era engraçado porque cada hora vinha uma pessoa conversar c/ a gente, uns davam força, outros praticamente diziam: volta p/ casa. Vou dar uma resumida aqui, as pessoas que moravam na casa:
- Alexandre: 33 anos, (irmao da léia, amiga da amiga de minha mae) o dono do barraco era pizzaiolo, estava em Málaga há 2 anos e estava desempregado(mas sobrevivia também da venda de documentos falsos). Pagava pensao p/ 3 filhos no Brasil.
- Paco: 34 anos, amigo de infância de Alexandre, era servente de pedreiro, estava aqui há 1 an0 e 6 meses. Tinha mulher no Brasil e pagava pensao p/ 6 filhos, isso mesmo, 6 filhos, entre 2 e 13 anos.
- Frank e Rose: 30 e 31 anos, quase 3 anos de Espanha, namoravam há 2 meses, ele assentava taco em apartamentos e ela lavava pratos em um restaurante. Cada um tinha um filho no Brasil. (2 meses após a nossa chegada, eles resolveram largar tudo aqui e voltar ao Brasil.)
- Ana e Rafa: 24 e 26 anos, ela trabalhava em um cyber e ele nas obras. Ele tinha um filho e já tinha rodado a Europa, inclusive, foi deportado da Escócia p/ Holanda e acabou parando em Málaga. Namoravam há 5 meses e queriam mudar de apartamento porque achavam que corriam riscos com os negócios do Alexandre, mas ambos, usavam o tal documento falso. Álias, todos na casa tinham.
- E por fim, nós quatro, eu e minha namorada Tati, meu primo Alex e meu irmao Léo...ainda tontos, sem acreditar e sem saber o que fazer dentro do covil de cobras que caímos.

No 2º dia eu estava tao tonta com tudo aquilo, o Alexandre era o anfitriao perfeito, nos levou p/ uma caminhada pela cidade, nos mostrava tudo, dava as dicas, mas frisava a cada 10 minutos "aqui, sem documento, vocês nao vao trabalhar."
Saímos à noite p/ um pub, perto de casa, meu irmao e minha namorada tomaram um porre homérico, voltaram carregados p/ casa.

No 3º dia de Espanha, resolvemos nos mecher...fizemos curriculuns, inúmeros, em espanhol, o que nao foi fácil, Alexandre nos ajudou. Saímos por toda a cidade distribuindo.
Ana e Rafa estavam a procura de um novo apartamento e nós iríamos dividir com eles, quando encontrássem.
Nos dias que se seguiram, saímos de casa cedo e só voltávamos à noite, exaustos, andamos a cidade inteira a procura de trabalho.
Meu primo, estava com a síndrome de turista: comprava tudo, comia tudo, já tinha comprado até uma bike p/ passear na cidade...mass...cada um c/ seu cada um, nao?
Voltar p/ casa era complicado, nossas roupas estavam nas malas, pq nao tinha lugar, a cama era pequena e a meio metro de distância, tinha outro casal dormindo...eu...nunca tinha dividido quarto c/ ninguém...confesso que nao foi nada fácil. Mas rolava uns churrascos, umas cervejadas...e nessas horas as máscaras iam caíndo.

Após esses 7 dias confusos encontramos um outro ap, no mesmo bairro...bem legal e nos mudamos. Pagamos p/ o alexandre aluguel, água, luz, gás e a comida.
O novo ap era bem legal, 3 quartos, tudo novinho...teríamos nosso cantinho.
Ficamos mais tranquilos...fizemos supermercado e uma lista de tarefas diárias como lixo, banheiro, cozinha, o Rafa e a Ana se mostraram muito amigos e ficou assim: Segundo eles o aluguel do ap era 750 euros (de início era 750 de cauçao e mais 750 adiantados) e dividiriamos em 6...claro, éramos amigos, divídiriamos tudo, aluguel, contas, tarefas...Fizemos uma vaquinha e compramos um computador, pedimos internet e tv à cabo.
Voltamos à procura de emprego...os pés encheram de bolhas, os braços estavam pretos do sol de tanto andar...mas logo conseguimos bicos, o Léo foi entregar panfletos eu fui fazer faxina e a tati foi trabalhar em um café de 5ª a domingo...Bom...as coisas começavam a melhorar. Meu primo Alex...rodava com sua bike pelas praias, academias, lojas...dizia que que o negócio dele era a arte, nao queria outro trabalho.

Em pouco mais de 1 mes, o Alex arrumou uma briga com o Rafa...resultado, pediram p/ ele sair do ap. Ficamos em dúvida: será que deveríamos ir embora também? p/ onde? Liguei p/ meus pais...rrsss...e o que ouvi: deixe que o Alex se lasque! o problema nao é de vocês. Decidimos continuar no ap e o Alex...nao mais falou c/ a gente, pediu 1 semana de prazo p/ sair...nessa 1 semana ele ia jogar video game c/ os amigos que fez, futebol, ou ficava em casa dormindo. As outras pessoas que conhecíamos...nao queriam dividir casa com ele, ou seja, o cara se queimou geral, ninguém gostava dele. Já nao tinha mais dinheiro...e entao, mal ficou 2 meses aqui, voltou p/ o Brasil.


(Foto1: Andanças.../Foto2: Alex, Léo, Alexandre e Tati/Foto3: Nós e o Mediterrâneo.

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